sexta-feira, 17 de maio de 2024

Karuta Competitivo VI - Os últimos 5 anos: Karuta no RJ & Gasshuku 2019

É até esquisito abrir isso aqui pra escrever uma postagem sobre karuta depois de tantos anos, mas eu estou muito feliz no momento e resolvi que queria tentar trazer minha jornada com o karuta até o presente. SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA!

Enamorada com meu baralho oficial (2019)

Quem acompanha o blog, sabe que eu comecei a jogar karuta em março/2019, depois de muitos anos querendo jogar e morando longe demais para sequer pensar que havia uma possibilidade de fazê-lo (e depois mais dois anos que eu, infelizmente, tive vergonha de ir até o grupo de karuta de São Paulo porque ansiedade social) e que eu cobri minha experiência até julho do mesmo ano. Depois disso, fiquei meio enrolada, acabei não escrevendo, veio a pandemia e infelizmente boa parte da minha experiência acabou se perdendo... Mas hoje vim aqui pra tentar resgatar parte dela e contar como estão as coisas agora! São tantas coisas que eu não devo conseguir contar tudo como gostaria, mas vamos lá.

Pois bem. De julho pra agosto, aconteceu algo importante: Eu entrei na minha segunda faculdade, dessa vez Letras - português/japonês, e estava DECIDIDA a encontrar pessoas para jogarem karuta comigo. Eu viajava com São Paulo com frequência, mas eu queria jogar karuta sempre que pudesse, e ficar esperando por essas viagens pra jogar às vezes só uma, duas vezes, no período que eu estava lá, não estava dando. Eu queria montar um grupo no Rio de Janeiro mesmo, para que eu pudesse chamar alguém pra jogar comigo e simplesmente poder jogar (até então eu arrastava alguns amigos que sabiam japonês, independentemente deles terem interesse ou não, para jogar comigo). Ficar treinando na sala de casa, sozinha, com meus avós vindo me perguntar "que que você tá fazendo?" não dava mais. 

JOGA KARUTA COMIGO, POR FAVOR

Pensando agora, eu estava numa intensidade tal qual Chihaya no começo de Chihayafuru mesmo. Decidi que TODOS os meus trabalhos da faculdade seriam sobre karuta (inclusive os de cultura brasileira de tema livre??? Tirei 8,5) e, durante minhas apresentações de matérias novas, fiz questão de falar "Oi, meu nome é Maria Clara, eu amo karuta e quero montar um grupo no Rio de Janeiro!" desse jeito mesmo. Eu andava com meu baralho de karuta oficial e de iniciantes dentro da mochila todos os dias, just in case, e também puxei as matérias de História do Japão e Cultura Japonesa porque pensei que podia encontrar alguém interessado que não fosse de japonês por lá. Meu objetivo era ser conhecida como "a menina do karuta".


Eu já tinha conseguido alguns contatos com amigos de "pessoas muito fãs de Chihayafuru que com certeza iriam ter interesse por karuta", mas, ao tentar contatá-las, descobri que elas eram muito fãs de Chihayafuru mesmo, e não que queriam jogar karuta. Eu não estava nem perto de perder as esperanças - era apenas meu segundo dia na faculdade -, mas estava um pouco decepcionada, quando, ao final de uma aula de História do Japão, depois da minha apresentação exagerada sobre karuta e da professora adorável me auxiliar explicando que karuta era como se o leitor falasse "Batatinha quando nasce" e tivéssemos que procurar pela carta "Esparrama pelo chão" (que é uma explicação que uso até hoje), uma menina acelerou o passo para me acompanhar quando eu saía da sala e perguntou que diabos era aquele jogo que eu estava falando tão empolgada sobre. Seu nome era Fernanda.


Meu espírito já estava desconfiado depois de tantas pessoas me deixarem na mão, mas falei "Se quiser que eu te mostre, eu estou com o baralho na mochila". Ela concordou, fomos pra uma sala de aula vazia, sentamos no chão e mostrei a ela como um jogo oficial acontecia. Não peguei leve, pois queria que ela entendesse como o jogo funcionava. No karuta, se você não comete faltas, você ganha ao pegar 25 cartas do seu oponente. Ganhei dela por 24. A carta que Fernanda conseguiu tirar de mim, e assim sendo, sua primeira carta, foi Shino. Expliquei o significado, quase matrimonial, de sua primeira carta - assim como me foi ensinado no Meguriai - e, para minha surpresa, ela se apaixonou por ela e também se interessou de verdade por karuta. Passamos a jogar toda semana, duas vezes por semana, em salas vazias da faculdade, às vezes sendo surpreendidas por professores que chegavam para dar suas aulas/orientarem alunos. Às vezes mostrávamos o esporte para algumas outras pessoas, que acabavam não jogando mais do que três dias conosco ou marcavam e faltavam, mas ela sempre esteve ali jogando comigo, e eu lhe ensinei as cartas e tentei ser para ela o que o Rafa-senpai e todos os outros membros do Meguriai tinham sido para mim.

Eu e Fernanda concentradas e jogando no chão

Com meu objetivo não apenas de jogar karuta e também de ensinar karuta para os outros, passei a ir para São Paulo não apenas para aprender, mas também para conseguir repassar esses ensinamentos para a Fernanda, para a Elizabeth (que estava ocupada em muitos dias que treinávamos, mas que sempre tentava vir jogar quando podia) e para as pessoas que se interessavam, ainda que brevemente, pelo esporte. Por eu jogar a mais tempo, eu sempre ganhava de todo mundo de uma diferença bem grande (15+ cartas quase sempre, muitas vezes 20+), e me tornei de certa forma, a "barreira" a ser alcançada. Mas eu sabia que só jogar comigo como pessoa que realmente sabia jogar melhor era limitador, que existiam pessoas em São Paulo mais rápidas, com melhor memorização, que sabiam sentar de verdade na posição certa, etc. Queria muito que a Nanda e a Elizabeth fossem comigo para São Paulo para verem como era jogar karuta com várias pessoas mais experientes... E foi quando o Meguriai anunciou seu gasshuku de 2019. 

Participantes do gasshuku de 2019

O gasshuku de 2019 é uma das melhores memórias que eu tenho relacionadas ao karuta e também contém um dos dias mais felizes da minha vida. Mas pois bem: O que é um gasshuku. Gasshuku nada mais é do que (e eu quoto eu mesma, no meu trabalho de cultura brasileira aqui) um “acampamento de treino” comum no Japão. Pode ser para treinar qualquer coisa e costuma durar dois ou mais dias. Nesse gasshuku, iríamos jogar por dois dias, de manhã até o comecinho da noite, e ele aconteceria, é claro, em São Paulo.

O gasshuku foi muito importante nesse momento, porque eu e Fernanda treinávamos por gostar de karuta, mas nunca com um objetivo específico em mente. Fernanda decorava os poemas aos poucos, sem pressão, e costumávamos jogar nos limitando aos que ela já sabia. Em São Paulo, entretanto, seria pra valer, tendo que saber os 100 poemas e jogando com pessoas que nunca tínhamos jogado antes. Para apimentar e deixar as coisas ainda mais interessantes, o Meguriai ainda organizou dois torneios para o primeiro dia: os de novatos, kouhais, e os de experientes, senpais no karuta. Na imagem acima, é possível ver os senpais na fileira de cima e os kouhais na de baixo. 

Eu e Fernanda no ônibus pra SP
Então fomos, eu e Fernanda, para o grande evento. Ela tinha 3 meses jogando, e eu, 8. Depois do anúncio do gasshuku, tínhamos treinado com mais afinco ainda, e conseguimos autorização da amável professora de História do Japão para que usássemos os tatami que a faculdade tinha, o que era muito mais gentil aos nossos joelhos do que treinar no chão. Jogávamos três partidas por dia, duas vezes na semana, sempre que podíamos, nos preparando ao máximo possível para o torneio e para que pudéssemos absorver tudo que conseguíssemos em São Paulo dos outros jogadores. 

Nosso ônibus atrasou e chegamos à noite do dia anterior, e acabamos tendo menos de 8 horas de sono depois da viagem para o dia seguinte. Mas não importava, pois tínhamos disposição e empolgação infinitas. O torneio de novatos, em que estávamos tão focadas, aconteceria num esquema de todos contra todos, e ganharia quem tivesse mais vitórias. Fora os membros frequentes do Meguriai, que eu já conhecia, também teriam alguns membros antigos presentes, além de um menino, Christian, que tinha vindo de Porto Alegre só para jogar conosco. Eu estava muito feliz com tudo que estava acontecendo, mas também estava absolutamente nervosa. Eu nunca tinha conseguido ganhar nenhuma partida contra um membro frequente do Meguriai - inclusive usava esse fato quase como uma lenda com as pessoas no Rio de Janeiro, tipo "vocês acham que eu jogo bem, nunca ganhei sequer uma partida contra um membro do Meguriai Kai" (aquela minha primeira vitória, que já falei aqui antes, foi contra um menino que tinha ido ver como eram os encontros e não continuou no grupo) e também tinham duas pessoas que eu não conhecia no torneio de novatos. Torcia muito para que eu jogasse primeiro contra uma das pessoas que já conhecia, ao menos, pois sentia que isso ajudaria com meu nervosismo... Mas é claro que isso não aconteceu.


Minha primeira partida foi contra Marianie, uma menina que era do Meguriai, mas tinha parado de ir aos encontros por conta do trabalho. Eu estava muito nervosa e Yura, minha carta favorita, estava na partida. Talvez você esteja lendo e se perguntando "Como caralhos ela lembra de tudo isso?": Estou consultando meu trabalho de cultura brasileira. São 20 páginas falando do gasshuku. Pois bem. De acordo com a Maah de 2019, sobre Yura na partida:
Ter Yura em jogo pode ser uma bênção ou um azar dependendo do meu estado de espírito e do momento que ela é lida. Se ela fica até o final do jogo ou aparece quando não estou mentalmente forte, ela me atrasa. Eu fico focada nela, com medo de perdê-la, e não jogo do jeito que costumo jogar. Já houveram diversas partidas que me peguei pensando “Seja lida logo, que droga!” porque depois que ela é lida, é como se um peso saísse das minhas costas.
Vale dizer que eu gostaria de dizer que esse dia me fez aprender e que eu falei "foda-se se tem Yura na partida", mas alguns meses depois, Nanda e Elizabeth começaram a fazer o esquema de colocar Yura bem perto delas e nunca me enviar para pegarem a carta mais fácil e me desestruturar e deu meio certo (ainda que elas nunca tenham conseguido ganhar de mim em uma partida oficial com 50 cartas em jogo, hmpf!). Terrível ver a comemoração ao conseguirem pegar Yura de mim. Ainda penso nisso a noite. 

Yura

Mas de volta ao gasshuku. Comecei a partida bem contra Marianie, conseguindo pegar as duas primeiras cartas do jogo. Mas ela me alcançou logo, e conforme fomos ficando mais empatadas, fui ficando mais nervosa e comecei a me afobar. Yura não era lida, e a possibilidade de pegarem ela de mim me deixava nervosa, o que me fez começar a cometer faltas. Acho que ela nunca foi lida e, no fim, perdi por 8 cartas, e, assim, supus que minha vitória no torneio tinha ido por água abaixo. Eu não tinha muitas esperanças de ganhar de qualquer maneira, mas perder logo a primeira partida e saber que eu não poderia nem sonhar com a vitória me deixou um pouco desanimada. Marianie se aproximou para dizer que eu era muito rápida, mais do que ela, mas que eu cometera muitos erros e abri caminho para que ela ganhasse. Agradeci as dicas, comi minha comida e aguardei a segunda partida. Sem a possibilidade de ganhar o torneio, voltei para a mentalidade de que aquilo era um treino, e que o importante era dar meu melhor. Relaxei e, quando a segunda pessoa contra quem eu iria jogar também não era conhecida - Christian -, apenas aceitei meu destino. 

Com a cabeça leve e a sensação de que eu conseguia ouvir com clareza as cartas, voltei a conseguir jogar o karuta que jogava com a Fernanda na faculdade todas as semanas. Christian não tinha a experiência que eu tinha adquirido jogando contra os membros do Meguriai também, e a partida foi muito a meu favor. Ganhei por 20 cartas e pude descansar logo, assistindo a partida dos outros enquanto aguardava a minha terceira. Eu me sentia leve e muito calma.


Quando vi que minha próxima partida seria contra Denis, entretanto, já fui esperando minha derrota. Ele era membro frequente do Meguriai e já havíamos jogado um contra o outro. Nesse embate, eu tinha perdido de 16 cartas, e isso com ele cometendo muitas faltas. Tentei não ir como uma mentalidade derrotista, e sim a de dar o meu melhor. Yura estava em jogo de novo, mas dessa vez eu fiquei animada, pois eu sabia que Denis também gostava de Yura e eu achava que seria um desafio tentar pegá-la dele, que era muito mais experiente. Denis também tinha me dado algumas boas dicas dois meses antes, na última vez que havíamos jogado, e eu queria mostrar para ele que tinha melhorado.

A partida foi boa para mim, e ruim para ele. Eu ainda me sentia relaxada e jogava com calma, mas ele cometia várias faltas, talvez com o posicionamento das partidas anteriores na cabeça, e eu acabei conseguindo uma vantagem imensa. No final, quando me restava apenas uma carta, ele começou a proteger seu campo com destreza, não se permitindo perder. Tentei lembrar que eu tinha a vantagem e que era só não me afobar, e deu certo. Yura não foi lida de novo, mas ganhei a partida por 19 cartas.


Depois dessa partida, foi quando a exaustão bateu de verdade. Já haviam se passado quatro horas e eu tinha jogado três partidas. Eu mal conseguia acreditar que ainda tinha que jogar outras duas, me sentia acabada. Enquanto descansava, assisti a partida de Marianie contra Regina, uma menina bem mais nova que também fazia parte do Meguriai. Marianie já havia ganhado a partida contra a Nanda e logo trouxe a vitória contra a Regina para casa também. Não tinha dúvidas de que seria ela a ganhar o torneio. 

Quando minha partida contra a Regina começou, percebi o quão cansada eu estava. Memorizar a posição das cartas parecia uma tarefa impossível, e, vendo Regina, eu percebia que ela sentia o mesmo. Nós duas demorávamos para pegar as cartas, demonstrando nossa falta de energia, e no final do jogo, estávamos praticamente empatadas. Mas eu tinha cometido mais faltas, e logo começou a ficar mais difícil compensar por elas. Vou quotar meu trabalho de cultura brasileira outra vez:

No meu coração, aceitei a derrota. Tinha feito muito naquela partida, de uma maneira ou de outra. Uma partida acirrada com a Regina? Da última vez que jogamos uma contra a outra, dois ou três meses antes, ela tinha ganhado de mim por quinze cartas. Era uma honra só ter conseguido chegar até ali. Mas meu ouvido funcionava, e minha mão continuava se movendo. 

Consegui pegar duas cartas seguidas, e voltei a passar à frente. No fim do jogo, eu estava apenas com uma carta, e Regina com três. Esse seria, normalmente, o momento em que eu entraria em colapso. Estar perto de ganhar subiria à minha mente, e eu cometeria erros.

Mas algo aconteceu. Ainda que eu estivesse nervosa e tremendo, olhei para o campo inferior direito de Regina.

No karuta, dizemos que há um Deus, o “Deus do karuta”. Quando uma carta que estamos focando é lida, dizemos que “foi o Deus do karuta”. É basicamente o que ateus como eu chamariam de instinto.

Uma carta para a vitória. Ainda haviam quatro em jogo, e qualquer uma delas poderia ser lida. Eu deveria estar atenta à todas as possibilidades.

Mas não consegui.

Aqui temos o infeliz problema da memória em relatos. O que eu sei com certeza: Todas as outras cartas Ta já tinham sido lidas. O "Deus do karuta" sussurrou no meu ouvido que a carta a ser lida a seguir seria a Ta restante, e não consegui prestar atenção às outras. Aqui, em meu relato, diz que foi Tama, mas na minha memória, foi Taka. Lembro que debati mentalmente qual das duas foi na época e decidi que tinha sido Taka, mas como eu tentava focar em "Ta", "Ta", "Ta" e não se era Tama ou Taka, se criou esse problema. Mas a parte importante é essa: Eu enviei a carta Ta para Regina, que ela colocou em seu campo inferior direito e minha intuição gritou com uma força que eu nunca tinha sentido antes e, quando escutei o som de "Ta", consegui pegar dela, assim ganhando a partida. 


Eu nunca tinha ganhado uma partida tão acirrada na vida. Ou eu ganhava por muitas cartas, como acontecia treinando as pessoas do RJ (e, naquele momento, Christian e Denis), ou eu perdia por muitas cartas, como acontecia regularmente no Meguriai. Foi a primeira partida que eu tive que lidar com tanta pressão, e eu estava tão cansada. Eu tremia e estava prestes a chorar, mas o grito de Nanda me tirou do meu transe, "Maria Clara, grava!". Quando olhei, percebi que ela estava no sorteio, unmei sen, apenas uma carta restante para ela e uma para Christian, com quem ela jogava contra. Já tinham outras pessoas gravando e não precisei, mas assisti. Infelizmente a sorte não estava do lado dela, e a carta de Christian foi lida. Mas para ela também foi a experiência de uma partida acirrada. 

Fui para o banheiro lavar meu rosto antes da última partida, e logo percebi que não conseguia parar de chorar. Eu tinha ganhado um jogo acirrado, e não conseguia acreditar. Estava tão surpresa e emocionada e ainda nervosa por toda a tensão... Assim que consegui relaxar, foi como se uma torneira tivesse aberto dentro de mim, e eu não conseguia mais chorar, por mais que quisesse. Não queria atrapalhar a organização da próxima partida e me mantive afastada enquanto comia e chorava, mas as lágrimas não paravam nunca. Comecei a duvidar de que eu fosse ser capaz de jogar a última partida do dia.


Nanda logo me viu e veio falar comigo para perguntar se estava tudo bem, e eu lhe disse que achava que não ia conseguir jogar a última partida, pois estava muito emocionada e não conseguia parar de chorar. Pensando agora, e talvez para você lendo, pareça uma maluquice, mas eu simplesmente não conseguia parar de jeito nenhum. Estava tão emocionada que sentia como se eu fosse chorar para sempre. Anteontem estava revendo o episódio da primeira temporada de Chihayafuru, quando a Kana-chan ganha do Komano e começa a chorar compulsivamente, e lembrei de mim. Inclusive ela ganha com Taka. Eu juro que foi Taka, cara. 

Enfim, a Nanda me pegou pelos ombros e disse "Consegue sim. Eu acredito em você" e depois me lembrou que minha última partida seria contra ela. Havia certo conforto em jogar contra alguém que eu já conhecia naquele estado emocional, alguém que eu conhecia o jogo tão bem. Fui capaz de parar de chorar. Seria a primeira vez que eu e a Nanda nos enfrentaríamos de maneira "oficial" também, e eu queria ver como ela jogaria naquela situação e o que tinha aprendido nos jogos do dia. 


Antes da partida, os senpai deram um aviso. Tinham 3 pessoas empatadas para o primeiro lugar, com três vitórias cada: Marianie, Denis... e eu. Eu achava que Marianie estivesse invicta, mas Denis tinha conseguido ganhar dela de uma carta, dando a ela uma derrota e a eu e ele a chance do primeiro lugar no torneio. Foi definido que ganharia quem ganhasse por mais cartas nessa última partida, ou mais cartas no geral, algo assim. Eu estava muito cansada e abalada emocionalmente pela vitória contra a Regina para entender ou pensar na importância daquela última partida. Eu só queria jogar e pronto. 

Eu e Nanda organizamos nossas cartas e, como sempre, seu posicionamento era familiar. Mas ela tinha mudado algumas cartas de lugar, o que provavelmente queria dizer que ela tinha aprendido algumas coisas durante o dia. Estávamos completamente destruídas, entretanto, e a partida foi terrível. Eu e ela esquecíamos que algumas cartas estavam em jogo, e, por mais que eu estivesse na frente, Nanda persuadia e não me deixava ganhar. Yura enfim foi lida e eu a peguei, tendo a satisfação de conseguir pegá-la ao menos uma vez naquele dia. Por fim, ganhei por 13 cartas. Foi o melhor jogo que Nanda fez contra mim desde que ela começara a jogar. Deitamos e descansamos juntas, mortas, enquanto as outras partidas eram finalizadas. Não tinha energia para e nem queria assisti-las, pois sabia que o resultado delas diria se eu ganharia o torneio ou não. Hiroko-san, uma das senpai, passou por mim e disse que a vitória ia ser minha, mas os jogos finais ainda não tinham sido concluídos e não quis acreditar muito. Mas mais tarde, enquanto eu ainda morria no chão e comia um sanduíche, os senpai anunciaram que, sim, eu tinha ganhado o torneio.


Fiquei muito feliz, mas apenas o quão feliz se pode ficar quando você está exausta e sentindo que está prestes a desabar e dormir a qualquer momento. Mais tarde, depois do gasshuku, o Rafa-senpai fez textões para todos que participaram do torneio e colocou na minha parte que "eu tinha treinado muito e demonstrado que isso trazia resultados", o que me deixou muito emocionada e acho que me fez chorar de novo. Aqui uma foto de eu recebendo, da Tati-senpai, os presentinhos e parabéns pela vitória:

Primeiro lugar no torneio de novatos (2019)

Depois disso, fomos embora para nos prepararmos, pois ainda não era o fim: Teríamos que jogar a mesma quantidade de partidas no dia seguinte! Mas... Essa é uma história pra outra hora, porque esse post já está gigante e são 18:50 (eu comecei a escrever 15h. Na verdade agora são 19:06, porque o blogger apagou meus últimos minutos de escrita por algum motivo, e estou tendo que reescrever essa parte). Esperava que o gasshuku tomasse um bom tempo, mas ainda assim foi muito. De qualquer maneira, estou feliz de ter conseguido finalmente postar todo esse relato, ao invés de só deixá-lo na minha cabeça. Todo esse momento, de ter a Nanda comigo pra treinar sempre, de ganhar o torneio de novatos, é muito importante pra mim num geral. Eu sou bem saudosista com toda essa época, pois foi o momento que eu vi um futuro pro meu karuta, pra minha possibilidade de jogar, pra minha habilidade melhorando. Claro que logo depois disso viria a pandemia... Mas ainda tenho bastante coisa pra falar antes de chegarmos lá.

Espero que eu consiga trazer um segundo post continuando essa história logo, mas não garanto porque preciso ter um dia livre e disposição pra escrever/lembrar de tudo/procurar as fotos, etc. Já estou feliz de ter conseguido relatar esses momentos e poder deixá-los salvos aqui. Talvez um dia eu poste meu trabalho de cultura brasileira aqui também. Eu tenho um pouco de vergonha porque ele é menos relato e mais narrativa mesmo, mas é melhor do que ele ficar apodrecendo nos meus arquivos sem que ninguém o veja nunca. O Rafa-senpai (e eu sei que eu falo dele o tempo todo, mas eu gosto dele e ele foi muito impactante conforme eu aprendia karuta - lembro que um dia cheguei na casa do meu ex-namorado e falei pra mãe dele que estava muito feliz e que ele me ensinou com tanto amor por karuta que eu me sentia apaixonada por ele. Aí logo corri pra explicar que eu não estava pensando em chifrar o filho dela nem nada do tipo, era só uma sensação de amor intenso quando alguém ama algo que você ama também e te ensina coisas que você não sabia) disse que é muito legal eu ter feito esses relatos (o I~V) porque não existem outros relatos de novatos que escreveram como foi seu começo aprendendo karuta. E realmente, eu teria esquecido de muita coisa - como eu achei karuta assustador, como eu fiquei feliz e de quem ganhei meu primeiro jogo - se não fosse por eles. 

Presentes que trouxe pra casa do torneio ♥

Enfim, parabéns a todos que conseguiram ler essa patacada de texto até aqui e espero que tenham gostado ou ficado empolgados com karuta de alguma maneira. Talvez eu tenha sido cringe e meio "religiosa" no que diz respeito a karuta, mas sei lá, esse esporte me deixa maluca de amor, e eu não ligo. Depois tento atualizar tudo isso por aqui. E se você tem curiosidade/interesse por karuta, entre em contato com a gente:


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