Acho surpreendente a diferença de representatividade feminina que vemos em mídias criadas por homens/mídias criadas por mulheres. Algumas podem fogem à regra aqui e ali, claro, mas é fato que mulheres escrevem mulheres melhor: As personagens são menos subestimadas, melhores desenvolvidas e aparecem com muito mais frequência.
Tenho pensado nisso enquanto revejo Fullmetal Alchemist Brotherhood. É a terceira vez que vejo o anime, e mais uma vez estou completamente deslumbrada pela narrativa da Hiromu Arakawa. Nunca foi novidade que FMA tinha um elenco de mulheres fodas, mas acabei virando minha atenção pra esse ponto, em especial, durante essa sessão de rewatch.
O legal de se assistir coisas que você gosta com outras pessoas - ao menos pra mim - é ver as diferentes opiniões/suposições que aquelas pessoas tem. Estava nos primeiros dez episódios de FMAB quando meu namorado, que está vendo o anime pela primeira vez, comentou "Poxa, é uma pena que essa personagem [Winry] tenha sido criada só pra morrer".
Não comentei nada pra não dar spoilers, é claro, mas fiquei surpresa por ele pensar que a Winry morreria. Aí, percebi que a suposição dele fazia completo sentido. Amiga de infância dos protagonistas, mulher, não está envolvida na luta nem nada assim: Aparentemente ela tinha uma sentença de morta sobre ela - Se a história não fosse da Hiromu Arakawa.
A Winry tinha o potencial perfeito pra se tornar o mártir dos protagonistas, mas isso nunca acontece, porque ela é forte da sua maneira, porque ela tem seus interesses, simplesmente porque ela não foi criada para morrer/não vive pelos protagonistas. Vamos lá, pensem comigo: Se o autor de SAO fosse o criador de FMAB, pode acreditar que ela já estaria enterrada.
Veja bem, temos vários exemplos de animes shounen que, muitas vezes, colocam personagens mulheres em papéis importantes. Às vezes elas são mais inteligentes que os protagonistas - como a Sakura, de Naruto -, ou até mesmo mais forte que eles (no início) - como a Rukia, de Bleach -, mas com o andar do anime, elas são meramente esquecidas, colocadas como coadjuvantes, eternamente mais fracas que o protagonista/sem evolução ou desenvolvimento por milênios.
Em FMA, você sente que as personagens mulheres são realmente importantes. Não há a sensação de que há uma barreira de *poder do protagonista* que elas não podem ultrapassar. Além disso, elas são humanas: Elas têm sua própria vida, objetivos e empregos. Algumas lutam; outras não. Algumas são donas de casa, outras são mecânicas, outras são vilãs: Todas tem seu valor e estão na história por algum motivo.
Eu sinto como se, em shounens, se alguém dá alguma informação importante, se alguém tem algum grande envolvimento no plot, esse alguém vai ser um homem. Ou isso, ou vai estar lá para servir de par para o protagonista/de par para alguém. Imagine, ligar para sua mecânica e ela ser uma mulher? Ir reencontrar seu professor de alquimia, e ele ser uma mulher? FMA faz tudo isso com incrível naturalidade.
Algo que eu também gosto muito é que as mulheres de FMA não tem uma regra de que elas precisam ter trabalhos/tarefas/comportamentos associados ao masculino para serem fodas. Nenhuma delas precisa agir de uma maneira menos "feminina" para ser respeitada. Algumas agem, outras não, e não tem nada a ver com respeito. Tem meramente a ver com a personalidade de cada uma, com como elas se sentem confortáveis consigo mesmas. Olivia Armstrong é uma major-general mão de ferro; May Chang é uma garotinha doce e mestre em alkahenstria; Riza Hawkeye é uma tenente extremamente séria sobre o seu trabalho; Maria Ross é uma soldada gentil; Izumi Curtis é uma dona de casa de pavio curto: todas são válidas com suas diferentes personalidades.
É claro que existem outros animes shounen com mulheres incríveis, e eles não devem ser esquecidos. Na verdade, pelo contrário, devem ser enaltecidos! Precisamos de muito mais shounen assim. De mais representatividade. De mulheres sendo fodas porque elas podem ser. Chega de sexualização! Chega de meninas saindo de brigas catastróficas apenas com um arranhãozinho na cara!
Uma cena que eu particularmente acho ma-ra-vi-lho-sa de FMA é quando a Lan Fan está lutando contra ninguém menos que o King Bradley e ela consegue ser mais esperta que ele. Eu não sabia que estava cansada de mulheres saindo intactas de brigas de vida ou morte (enquanto nas mesmas brigas homens teriam morrido/se machucado feio) até ver aquela cena.
Mas gostaria de adicionar uma coisa: Se eu ver alguém falando que FMA é o único shounen a representar bem mulheres, eu vou, sem dúvidas, mandar essa pessoa ir se ferrar e mandá-la ir assistir mais animes. A representação em FMA é maravilhosa, mas não quer dizer que seja a única. É verdade que não consigo pensar em outro shounen que tenha a quantidade de mulheres relevantes no elenco que FMA tem, mas ei, temos algumas mulheres muito bem representadas por aí sim.
Enfim, vamos agradecer por FMA nos dar tantas mulheres maravilhosas e únicas. Vou finalizar o meu rewatch aqui. Estou fazendo esse post depois de terminar o episódio 20. Pode ser que eu fatalmente queira falar mais coisa conforme for assistindo, mas isso fica pra outro post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário