{Yesterday's Book} O Chamado de Cthulhu

Ya-hello! Depois de meses quarentenada em que eu começava livros e nunca os terminava, finalmente consegui terminar o, sim, primeiro livro do ano. 

O Chamado de Cthulhu é do renomado autor de terror H.P. Lovecraft, e reúne diversos contos - o título sendo um deles - datados do começo do século 20. Cada conto traz uma história sobre pessoas que se depararam com um horror terrível, todos entrelaçados à ideia dos perigos do desconhecido.

O livro foi uma leitura bem diferente para mim, tendo em vista que eu não sou muito de ler terror. Eu também nunca tinha lido Lovecraft na vida, então os sete contos nele dispostos foram meu primeiro contato com o autor de verdade (fora as longas divagações de meu querido irmão, que é obcecado por ele). 

O primeiro conto do livro é justamente o que dá nome ao título, e o mais famoso do autor: O Chamado de Cthulhu. Ele trata de Cthulhu, ser sombrio e indescritível que está pronto para destruir o planeta quando o culto milenar que o cultua conseguir trazê-lo de volta, e foi o conto de que menos gostei. Ele se alonga demais e termina sendo cansativo e sem-graça. Fiquei tão decepcionada que deixei o livro de lado por um tempo, achando que todos fossem ser assim. Felizmente, estava enganada.

Os dois contos subsequentes, Dagon e A música de Erich Zann foram muito melhores. Ambos contos curtinhos (coisa de menos de 10 páginas), eles falaram exatamente o necessário, mostraram a que vieram e foram uma leitura satisfatória.

Dagon é sobre um homem que, perdido no mar, encontra algo absolutamente aterrorizante. Este conto, em particular, conseguiu me deixar meio incomodada e assustada. Consegui me colocar no papel do protagonista, assustado e confuso, se deparando com algo que nunca viu antes. De todos os contos do livro, ele foi o que realmente conseguiu me passar a sensação de terror/horror (que era minha expectativa inicial quando comecei a leitura). 

A música de Erich Zann foi provavelmente o meu segundo conto favorito do livro. Ele é absolutamente frenético, e é sobre a conexão da música de um senhor com coisas terríveis e inexplicáveis. Foi uma leitura que me deixou ansiosa para saber o que aconteceria a seguir (Surpreendentemente, é um dos contos menos famosos do autor). 

Em seguida, tivemos o excessivamente longo O Horror de Dunwich. Não fosse tão longo, talvez este tivesse sido um conto melhor. Ele é sobre uma cidade com uma família de moradores estranha que cada vez mais parece ter algum contato com algo que não pertence ao mundo que conhecemos. Foi interessante e uma leitura que eu considerei "ok". Seguiu o mesmo problema de O Chamado de Cthulhu, sendo longo demais e tendo algumas partes desinteressantes. 

O quarto conto do livro, A sombra vinda do tempo (neste livro em particular tendo o título traduzido para "A sombra fora do tempo") foi, SEM DÚVIDAS, o melhor conto do livro. Longo como os dois dos quais já reclamei, o começo me deixou desanimada e infeliz, pensando que seria mais um dos contos cansativos do Lovecraft... Só para me surpreender completamente.

A sombra vinda do tempo é sobre um homem que, um dia, subitamente, começa a ter um comportamento estranho o suficiente para afastar toda a sua família. Isso se estende por anos, até ele finalmente voltar a si - sem memórias do tempo em que passou neste estado, mas com sonhos mirabolantes em um mundo completamente novo.

Este conto tem uma construção de mundo absurda (pra vocês terem ideia, me lembrou um dos meus livros favoritos, A mão esquerda da escuridão, da Ursula K. Le Guin) e traz umas questões existenciais muito interessantes. É emocionante e maravilhoso, e traz a minha passagem favorita do livro inteiro: 

"Por diversas vezes, olhei nervosamente para mim mesmo, vagamente perturbado pela forma humana que possuía." 

O conto seguinte, Os Ratos nas Paredes, foi outro conto que achei "ok". É sobre um homem que reforma a casa ancestral de sua família e vai morar nela, só para escutar barulhos esquisitos na parede à noite. Este e o próximo conto me convenceram que o Lovecraft devia gostar muito de gatos (algo que temos em comum). 

Os Gatos de Ulthar é bem diferente de todos os outros contos deste livro. Ele parece um daqueles contos-da-carochinha para assustar/ensinar crianças, com moral no final e tudo, e é sobre uma cidade que tem um casal de velhos que mata gatos. Gostei bastante do estilo diferente do Lovecraft aqui.

O sétimo e último conto do livro é o A Cor que Caiu do Espaço. Ele trata das consequências que uma família sofre quando um meteorito de constituição estranha cai em sua propriedade. Foi mais um conto que achei "ok": Apesar de ser longo, ele não foi cansativo, mas também não me surpreendeu nem nada do tipo.

Enfim. No geral, gostei bastante do meu primeiro contato com Lovecraft. Foi bom sair um pouco do que estou acostumada, e tive muitas surpresas agradáveis. Não sei se vou atrás de outras coisas dele, mas posso garantir que ler este livro foi uma experiência interessante. A sombra vinda do tempo em particular, nossa senhora... Te faz perceber que o Lovecraft de fato escreveu poesia antes de ir para o terror. 

Para os que nunca leram Lovecraft antes, minhas recomendações de primeira viagem ficam sendo Dagon, A música de Erich Zann, Os Gatos de Ulthar e, é claro, A sombra vinda do tempo. Acho que vale dar uma chance, e os três primeiros têm só por volta de 10 páginas cada. Só não recomendo muito este livro que comprei em si porque achei que a edição tinha umas partes mal revisadas.

Minha nota final: